por John W.
Whitehead
De todos os inimigos das liberdades públicas a guerra é, talvez, o mais temível
porque inclui e desenvolve o germe de todos os outros. A guerra é o pai de
exércitos; destes originam-se dívidas e impostos... instrumentos conhecidos para
submeter os muitos à dominação dos poucos... Nenhuma nação poderia preservar
sua liberdade em meio à guerra contínua.
– James Madison
Travar guerras sem
fim no estrangeiro (no Iraque, Afeganistão, Paquistão e agora Síria) não torna
a América – ou o resto do mundo – mais seguros, certamente não está a fazer a
América grande outra vez e está inegavelmente a afundar os EUA ainda mais profundamente
na dívida.
De facto, é admirável que a economia ainda não tenha entrado em colapso.
Na verdade, mesmo se puséssemos fim a toda intrusão dos militares e
trouxéssemos hoje todas as tropas de volta para casa, levaria décadas para
pagar o preço destas guerras e afastar os credores do governo das nossas
costas. Mesmo assim, os gastos do governo teriam de ser cortados
dramaticamente e os impostos agravados.
Faça as contas.
O governo tem US$19 milhões de milhões (trillion) de dívida: Os gastos de guerra
aumentaram a dívida do país. A dívida agora excedeu uns estarrecedores 19
milhões de milhões e está a crescer a uma taxa alarmante de US$35
milhões/hora e US$2 mil milhões a cada 24 horas . Mas enquanto
os empreiteiros da defesa estão a ficar mais ricos do que nos seus
sonhos mais loucos, nós estamos empenhados a países estrangeiros tais como
o Japão e a China (nossos dois maiores credores estrangeiros em US$1,13 e
US$1,13 milhões de milhões, respectivamente).
O orçamento anual do Pentágono consome quase 100% da receita do imposto
sobre o rendimento individual . Se há qualquer regra absoluta pela qual o
governo federal parece operar é de que o contribuinte americano sempre é
espoliado, especialmente quando chega o momento de pagar a conta da tentativas
da América de policiar o mundo. Tendo sido cooptados pela cobiça dos
empreiteiros da defesa, de políticos corruptos e de responsáveis incompetentes
do governo, a expansão militar do império americano está a sangrar o país a uma
taxa de mais de US$57 milhões por hora .
O governo gastou US$4,8 milhões de milhões em guerras no exterior desde o
11/Set, com US$7,9 milhões de milhões em juros: Trata-se de uma carga fiscal de
mais de US$16 mil por americano. Quase um quarto dessa dívida foi incorrido em
consequência das guerras no Iraque, Afeganistão, Paquistão e Síria. Durante os
últimos 16 anos, estas guerras têm sido pagas quase inteiramente pela
contracção de empréstimos junto a países estrangeiros e ao Tesouro dos
EUA. Como destaca o Atlantic, estamos a combater o terrorismo com um
cartão de crédito . Segundo o Watson Institute for Public Affairs da Brown
University, os pagamentos de juros sobre o que já tomámos emprestado para estas
guerras fracassadas podiam totalizar mais de US$7,9 milhões de milhões em
2053 .
O governo perdeu mais de US$160 mil milhões devido ao desperdício e à fraude
por parte dos militares e empreiteiros da defesa: Com empreiteiros pagos
frequentemente superando em número as tropas alistadas para combate, o esforço
de guerra americano alcunhado como "coligação da vontade" evoluiu
rapidamente para a "coligação da facturação", com contribuintes
americanos forçados a pagar milhares de milhões de dólares para subornos em
cash, bases de luxo, uma auto-estrada para lugar nenhum, equipamento
defeituoso, salários para os chamados "soldados fantasmas"
e sobrepreços em tudo e mais alguma coisa associada ao esforço de
guerra, incluindo um assento de vaso sanitário de US$640 e uma máquina de
café de US$7600 .
Contribuintes estão a ser forçados a pagar US$1,4 milhão por
hora para fornecer armas estado-unidenses a países que não podem arcar com
a despesa de adquiri-las. Como informa a Mother Jones, o programa de
Financiamento Militar Estrangeiro do Pentágono "abre o caminho para o
governo dos EUA pagar por armas para outros países – só para"promover a
paz mundial", naturalmente – utilizando os seus dólares fiscais, os quais
são então reciclados para as mãos das corporações do complexo
militar-industrial.
O governo dos EUA gasta mais em guerras (e ocupações militares) no
estrangeiro a cada ano do que todos os 50 estados somados gastam em saúde,
educação, bem-estar e segurança. De facto, os EUA gastam mais com os seus
militares do que os oito países com mais altos gastos de defesa somados .
O alcance do império militar da América inclui cerca de 800 bases em até
160 países , operadas a um custo de anual de mais de US$156 mil milhões. O
jornalista de investigação David Vine relata: "Mesmo resorts e áreas
recreativas em lugares como os Alpes Bávaros e Seul, Coreia do Sul, são bases
do mesmo tipo. A nível mundial, os militares dirigem mais de 170 campos de
golfe .
Agora o presidente Trump quer aumentar o gasto militar em US$54 mil
milhões. Prometendo "um aumento histórico no gasto de
defesa para reconstruir os esgotados militares dos Estados Unidos",
Trump deixou claro onde estão suas prioridade – e não são os contribuintes
americanos. Como informa The Nation, "Num planeta onde os
americanos representam 4,34 por cento da população, os gastos militares são
responsáveis por 37 por cento do total global .
Acrescente-se o custo de travar a guerra na Síria (com ou sem aprovação do
Congresso) e o fardo sobre os contribuintes subirá a mais de US$11,5
milhões por dia . Ironicamente, enquanto candidato presidencial
Trump opôs-se veementemente a que os EUA utilizassem força na Síria ,
bem como a abrigar refugiados sírios dentro dos EUA. Mas ele não teve problemas
em retaliar contra o presidente sírio Bashar al-Assad em nome de crianças
sírias mortas num ataque químico. O custo do lançamento dos 59 mísseis
Tomahawk contra a Síria? Estima-se que só os mísseis custam US$60 milhões. Veja
bem, este é o mesmo homem que, enquanto fazia campanha para a presidência,
advertia que combater a Síria assinalaria o arranque da III Guerra
Mundial contra uma unidade síria, russa e iraniana. Os preços do petróleo já começaram a subir pois os
investidores antecipam uma extensão do conflito.
Claramente, a guerra tornou-se uma enorme máquina de fazer dinheiro e o governo
dos EUA, com o seu vasto império, é um dos seus melhores compradores e
vendedores.
Mas o que a maior parte dos americanos – com os cérebros lavados e acreditando
que patriotismo significa apoiar a máquina de guerra – deixa de reconhecer que
estas guerras em curso têm pouco a ver com a manutenção da segurança do país e
tudo a ver com o enriquecimento do complexo militar-industrial a expensas do
contribuinte.
A argumentação pode continuar a mudar para explicar porque forças militares
americanas estão no Afeganistão, Iraque, Paquistão e agora Síria. Contudo, o
que permanece constante é que quem dirige o governo – incluindo o actual
presidente – está a alimentar o apetite do complexo militar-industrial e a
engordar as contas bancárias dos seus investidores.
Um bom exemplo: o presidente Trump planeia "reforçar" gastos
militares enquanto corta fundos para o ambiente, protecções de
direitos civis, artes, negócios possuídos por minorias, emissoras públicas de
rádio e TV, a Amtrak (ferrovia), aeroportos rurais e rodovias
inter-estaduais .
Por outras palavras: a fim de financiar este florescente império militar que
policia o globo, o governo estado-unidense está preparado para levar a nação à
bancarrota, sacrificar nossos soldados, aumentar as probabilidade de terrorismo
e de ricochetes internos – e de empurrar o país muito mais para perto de um
colapso final.
Claramente, nossas prioridades nacionais estão numa necessidade desesperada
de revisão geral .
Como pergunta o repórter Steve Lopez do Los Angeles Times:
Por que lançar dinheiro na defesa quando tudo está em derrocada em torno de
nós? Precisamos nós gastar mais dinheiro com nossos militar (cerca de
US$600 mil milhões este ano) do que os sete países seguintes somados? Preciamos
nós de 1,4 milhão de pessoal militar activo e 850 mil reservas quando o número
de inimigos no momento – ISIS – não passa de dezenas de milhares? Neste caso,
parece que há algo radicalmente errado com a nossa estratégia. Deveriam 55% dos
gastos discricionários do governo federal ir para os militares e apenas 3% para
transportes quando o número de vítimas americanas é muito maior devido à
infraestrutura caduca do que ao terrorismo? Será que a Califórnia precisa
tantas bases militares activas (31, segundo militarybases.com) quando ela tem
campuses de universidades estaduais (33)? E será que o estado precisa de mais
pessoal militar no activo (168 mil segundo a revista Governing ) do que
professores em escolas públicas elementares (139 mil)?
Obviamente, há muito melhores utilizações para os fundos dos contribuintes do
que os milhões de milhões de dólares que são desperdiçados na guerra. O que se
segue são apenas algumas das formas como esses dólares poderiam ser
utilizados:
US$270 mil milhões para reparar escolas públicas dos EUA e o dobro disso
para modernizá-las.
US$120 mil milhões por ano para reparar a infraestrutura em ruínas do país.
Com 32% das principais auto-estradas do país em condição fraca ou
medíocre, estima-se que melhorar as estradas e pontes exigiria US$120 mil
milhões por ano até 2020 , ainda que sejam precisos "muitos milhões
de milhões ... para consertar a teia de estradas, pontes, ferrovias,
metropolitanos e estações de autocarros".
US$251 milhões destinados a melhorias de segurança e construção para o
Amtrak.
US$690 milhões para cuidar dos 70 mil veteranos idosos da
América.
Os US$11 mil milhões desperdiçados ou perdidos no Iraque em apenas um ano poderiam
ter pago salários de 220 mil professores.
O custo anual de estacionar apenas um soldado no Iraque poderia ter alimentado 60 famílias americanas .
US$11 mil milhões para abastecer o mundo – inclusive nossas próprias cidades em
decadência – com água potável .
Utilizar os US$10 mil milhões gastos a cada ano para fornecer armas, equipamento,
treino e aconselhamento a mais de 180 países para começar a
pagar os esmagadores US$19 milhões de milhões da dívida nacional. Este número
não inclui as centenas de milhares de milhões gastos a cada ano com a
manutenção da presença militar estado-unidense por todo o globo.
Na medida em que "nós o povo" continuamos a permitir ao governo
travar suas custosas, absurdas e infindáveis guerras no exterior, a terra
americana continuará a sofrer: nossas estradas se esfarelarão, nossas pontes
cairão, nossas escolas cairão em decadência, nossa água de beber se tornará
imbebível, nossas comunidades se desestabilizarão e o crime ascenderá.
Aqui está o problema: se a economia americana entrar em colapso – e com ela os
últimos vestígios da nossa república constitucional – será o governo e seus
orçamentos de guerra de milhões de milhões de dólares que deverão ser
culpados.
Naturalmente, o governo já antecipou esta ruptura.
Eis porque o governo transformou a América numa zona de guerra, transformou a
nação num estado vigiado e classificou "nós o povo" como combatentes
inimigos.
Durante anos o governo actuou com os militares na preparação para o tumulto civil generalizado provocado
pelo "colapso económico, ruína do funcionamento da ordem política e legal ,
deliberada resistência ou insurgência interna, emergências de saúde pública
difusas e desastre catastróficos naturais e humanos".
Tendo gasto mais de meio século a exportar guerra para terras estrangeiras, a
aproveitarem-se da guerra e a criarem uma economia nacional aparentemente
dependente dos despojos de guerra, os falcões há muito que orientaram sobre nós
seus apetites conduzidos pelo lucro, trazendo para casa os materiais de guerra
– tanques militares, lançadores de granadas, capacetes Kevlar, rifles de
assalto, máscaras de gás, munições, aríetes, binóculos de visão nocturna, etc –
e entregando-os à polícia local, transformando assim a América num campo de
batalha.
É assim que a polícia estatal vence e "nós o povo" perdemos.
Contudo, como finalmente deixo claro no meu livro Battlefield America: The War on the American People ,
todo império militar fracassa.
No máximo do seu poder, mesmo o poderoso Império Romano não podia confrontar-se
com uma economia em colapso e militares florescentes. Períodos prolongados de
guerra e falsa prosperidade económica levam geralmente à sua morte. O
historiador Chalmers Johnson prevê:
O destino dos impérios democráticos anteriores sugere que um tal conflito é
insustentável e será resolvido em um de dois modos. Roma tentou manter seu império e
perdeu sua democracia . A Grã-Bretanha optou por permanecer
democrática e no processo deixou ir-se o seu império. Intencionalmente ou não,
o povo dos Estados Unidos já está embarcado na rota do império não democrático.
Isto é a "influência injustificável, desejada ou não, do complexo
militar-industrial" de que o presidente Dwight Eisenhower nos advertia há
mais de 50 anos a fim de não deixar perigar nossas liberdades ou processos
democrático. Eisenhower, que foi o Comandante Supremo das Forças Aliadas na
Europa durante a II Guerra Mundial, estava alarmado com a ascensão da máquina
de guerra orientada pelo lucro que emergiu a seguir à guerra – uma máquina que,
a fim de se perpetuar, teria de manter-se a travar guerras.
Não prestámos atenção à sua advertência.
Mas como reconheceu Eisenhower , as consequências de permitir o
complexo militar-industrial, exaurir nossos recursos e ditar nossas prioridades
nacional estão para lá de graves:
Toda arma fabricada, todo vaso de guerra lançado, todo foguete disparado
significa, em última análise, um roubo daqueles sofrem fome e não são
alimentados, daqueles que sofrem frio e não são vestidos. Este mundo em armas
não está só a gastar dinheiro. Ele está a gastar o suor dos seus trabalhadores,
o génio dos seus cientistas, as esperanças dos seus filhos. O custo de um
moderno bombardeiro pesado é isto: uma escola moderna de tijolo em mais de 30
cidades. É de duas centrais eléctricas, cada uma abastecendo uma cidade de 60
mil habitantes. É de dois hospitais refinados e plenamente equipados. É de
cerca de 80 quilómetros de auto-estrada em betão. Nós pagamos por um único
avião caça cerca de 13,6 mil toneladas de trigo. Pagamos por um único destróier
com novos lares que poderiam ter alojado mais de 8000 pessoas. Isto, repito, é
o melhor modo de vida no caminho que o mundo está a tomar. Isto não é de todo
um meio de vida, em qualquer sentido verdadeiro. Sob a nuvem da ameaça de
guerra, é a humanidade enforcada numa cruz de ferro.
Acorda, América. Não resta muito tempo para chegarmos à hora zero.
[*] Procurador constitucional e escritor, é fundador e presidente de The Rutherford Institute .
Seu novo livro éBattlefield America: The War on the American People (SelectBooks,
2015). johnw@rutherford.org .
O original encontra-se em www.informationclearinghouse.info/46875.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário